Com o desenvolvimento massivo dos meios de comunicação no decorrer do século XX, a eletrônica se torna fundamental no processo de troca de informações. As disputas semânticas se fortaleceram no final dos anos 60 com o avanço das tecnologias de reprodução e edição e também com a diversificação da produção criativa e crítica. O que se conhece hoje como ‘memes’ tem sua origem moderna em um movimento artístico e político da década de 60 na Europa. O movimento situacionista (1), como forma de criticar tanto o socialismo real do leste europeu e a sociedade de consumo capitalista, promoveu ações que misturavam a cultura de massas, a crítica teórica e a atuação política.
Uma das expressões era a utilização de histórias em quadrinhos nas quais os balões de diálogos eram alterados de modo a transformar a significação e o contexto da obra original. Este tipo de ação ficou conhecida como detournement (desvio).
Mais recentemente, nos anos 90, acompanhando a intersecção entre política, arte e tecnologia uma série de movimentos se utilizaram de ferramentas tecnológicas para promover trotes, embustes e sátiras como uma maneira de politizar tanto as tecnologias quanto as questões sociais via manipulação de informações. Um grupo que desenvolveu a prática do detournement situacionista e o trouxe à contemporaneidade foi o norte-americano Adbusters. Em suas obras, as imagens, símbolos, marcas e mensagens são subvertidas e fazem surgir significados diferentes dos originais. Tendo como alvo as mensagens comerciais de grandes empresas, a experiência dos Adbusters faz a crítica da “verdade” contida nas propagandas e expõe o conteúdo político e econômico embutido nas ações de marketing.
Como forma de crítica política, social, cultural e econômica, o desvio de função dos conteúdos produzidos pelos mecanismos técnicos de informação e comunicação tem sido uma constante e vêm se intensificando com o passar dos anos e a evolução tecnológica. O debate sobre veracidade, originalidade, autoria e significado das mensagens é um problema que engloba as esferas tecnológicas, criativas e culturais e a interferência destes processos na realidade social é um tema fundamental para ser debatido dentro do escopo da liberdade de expressão.
(1) Ver: Situacionista: Teoria e Prática da Revolução. Ed. Conrad, 2002.