“Não há, ainda, pesquisas consistentes que consigam dar conta exatamente do que aconteceu no processo eleitoral brasileiro, até porque é difícil isolar os efeitos das novas tecnologias de comunicação do contexto específico dessa eleição, pesando corretamente os fatores. Uma coisa é bastante certa, porém: não é possível pensar o efeito do WhatsApp, e da desinformação que circulou por ele, descolados tanto de outras plataformas de internet (mídias sociais e, principalmente, o YouTube), quanto da mídia tradicional de massa. A desinformação que produziu efeitos, pelo menos em algum momento, encontrou amparo ou não foi concretamente rejeitada nesses outros ambientes.

A falta de transparência das plataformas, seja em suas políticas, algoritmos ou ambientes de circulação da informação, com certeza é um dos maiores complicadores para o combate à desinformação. Como são ambientes privados, e muitas vezes estão baseadas em locais onde nossa legislação não alcança, ninguém tem exata dimensão das operações de alteração e previsão de comportamento que estão sendo desenvolvidas e a pedido de quem. Sabemos que elas existem cotidianamente para o marketing de produtos e temos notícias do uso em eleições. Mas para serem efetivas, e essa é uma das suas características essenciais, elas precisam ser invisíveis a quem é atingido. As frágeis democracias do Sul, com suas instituições titubeantes, disfuncionais ou cúmplices de determinados atores, obviamente são o alvo mais desprotegido.”


Rafael Evangelista é cientista social, mestre em linguística e doutor em antropologia social pela UNICAMP.  Atualmente é pesquisador do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri) e professor do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural da mesma Universidade. Em 2018, atuou como pesquisador visitante junto ao Surveillance Studies Centre, da Queen’s University, no Canadá. É Autor do livro digital “Para Além das Máquinas de Adorável Graça: cultura hacker, cibernética e democracia”.